Ratolândia e outras histórias: a guerra contra as drogas

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Ultimamente anda-se falando bastante sobre descriminalização e regulamentação do uso e venda de drogas. Gostaria, então, de trazer alguns dados que ficam muitas vezes esquecidos em meio a essa discussão (pra não dizer que são totalmente desconhecidos por boa parte das pessoas). Por muito tempo, acreditou-se que o contato com drogas causava dependência por si só, e essa ideia era reforçada por vários experimentos com ratos que injetavam as drogas diretamente em sua corrente sanguínea, e observavam sua reação: buscar mais e mais drogas, deixando até de consumir água e alimentos para isso. Foi então que foi feito um experimento bastante interessante, na década de 1970, sobre uso de drogas, vício e os efeitos do ambiente sobre ambos. Você pode encontrar uma versão em quadrinhos desse experimento aqui. Basicamente, o professor Bruce Alexander notou uma possível falha nos experimentos anteriores: todos mantinham os ratos isolados em pequenas gaiolas. Então surgiu a questão: e se os ratos tivessem a oportunidade de socializar e viver em ambientes maiores (condições muito mais parecidas com sua forma de vida fora do cativeiro, e também com a vida dos humanos), será que sua relação com as drogas seria a mesma? Bom, não foi. Os ratos vivendo em uma “ratolândia”, com outros ratos e várias distrações, tiveram um alto índice de rejeição às drogas, enquanto ratos isolados as aceitaram e se viciaram com certa facilidade. Ainda, quando inicialmente obrigados a consumir a droga, os habitantes da “ratolândia” também demonstraram muito mais facilidade em abandonar o uso da droga quando tiveram oportunidade do que os ratos confinados. A conclusão: a droga não foi assim tão irresistível e viciante em ratos com vidas sociais saudáveis.

Outro estudo, realizador pelo Dr. Carl Hart, recrutou pessoas usuárias de crack para observar sua relação com a droga. Depois de receberem uma dose inicial de crack, eram oferecidas a cada participante outras oportunidades, ao longo do dia, de fumar a mesma dose, ou de receber uma recompensa diferente à qual teriam acesso apenas ao final do experimento, por exemplo, US $ 5 em dinheiro. Os participantes, quando recebiam doses mais baixas no começo do dia, com frequência escolhiam a recompensa em dinheiro ao invés da droga, ou seja, abriam mão do prazer imediato da droga por uma recompensa futura que lhes parecia mais vantajosa – algo bastante racional. O cientista ressalta, em uma entrevista: “se você está vivendo em um bairro pobre privado de todas as opções, há uma certa racionalidade em continuar a tomar uma droga que vai lhe dar algum prazer temporário”. Mais uma vez, o grande problema da droga não é apenas a substância em si, mas sim as condições ambientais e sociais nas quais seus potenciais usuários estão inseridos.

Para finalizar, o Fórum de Política de Drogas do Texas traz alguns dados interessantes:

A dependência de drogas (vício) é um resultado incomum. 54% das pessoas que usaram maconha, o fizeram menos de 10 vezes na vida, 61% pararam antes de atingir 200 vezes. Para cocaína, foram 57% usando até 10 vezes, e 79% parando antes das 200. Ainda segundo a mesma fonte, 8% das pessoas que já usaram ácool tornaram-se dependentes, contra 3% para cocaína, 11% para heroína e 4% para maconha. Abuso e dependência são dominados pelo álcool, que constitui 5 em cada 6 casos. Os efeitos do álcool sobre outras pessoas são também os piores: comportamentos violentos, danos aos fetos, perda de controle físico e mental associados a diversos crimes e acidentes. As estatísticas mostram, também, que o vício em drogas está fortemente relacionado à idade: pessoas mais jovens estão mais sujeitas à dependência.

E aí, será que as drogas (lícitas ou ilícitas) são mesmo as grandes vilãs da sociedade?


Para saber mais:

http://www.stuartmcmillen.com/comics_pt/ratolandia/#page-1

Crack: novos estudos desmentem os mitos


http://www.dpft.org/duianotes.htm
http://www.dpft.org/duiacharts.htm#2

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